quinta-feira, 26 de maio de 2011

1#

Desde que a Joana morreu, que eu estou perdida - perdi-me nas semanas, nas horas, nos minutos, nos segundos, na vida: tudo se perde na vida. A Joana perdeu-se de mim. Mas ainda a relembro com o mesmo carinho: gosto de pensar no seu sorriso malandro, nas suas gargalhadas histéricas, no seu espírito aventureiro, o mesmo que a matou. Gosto de pensar que ela ainda está aqui, ao pé de mim e ao pé dos outros - temos todos tantas saudades; principalmente o Francisco, que foi o que sofreu mais, porque afinal perdeu a pessoa que ele mais amava no mundo. Até pensei que, um dia, iriam casar - nunca tinha visto amor tão grande. Mas já não resta nada, só desgraça. A Sara não fala com ninguém há meses. Só vai às aulas para não dar trabalho aos pais. Não sei se vou aguentar muito mais assim. Nem sequer consigo apreciar o tempo que passo com o Gonçalo. Por isso, estou a escrever, porque escrever é calar-me, é gritar sem ruído, é escrever porque ninguém me ouve. Hei-de continuar a escrever, na esperança que, talvez, a Joana me ouça. Eu ainda a ouço, lá bem no fundo do meu coração, a pedir desculpas por ter partido, mas Joana, não te posso desculpar. Abandonaste-me. Deixaste-me no meio de pessoas que não têm metade da força que tu tinhas. Agora, ando perdida, porque tu perdeste-te de mim. Só tenho uma certeza: quero encontrar-me. Não me negues isso. Um dia, talvez, te consiga perdoar. Até lá, só quero que saibas que sempre gostei muito de ti e que continuarei a sentir saudades, por mais dias que passem. Da tua Inês, com muito amor.

0 comentários:

Enviar um comentário

 

Blog Template by YummyLolly.com